Hulha Negra deve colher 20 mil toneladas de soja

19/04/2013 23:59

 

Fotos Lauren Krause

LUCRO O preço pago pelo grão tem estimulado os produtores a se dedicar à cultura

 

        A soja veio para ficar. Essa é a afirmação de agricultores do assentamento Boa Amizade, a cerca de 30 quilômetros da sede do município. As terras que garantiram o sustento da agricultura familiar, com o cultivo de sementes olerícolas, abre espaço para uma cultura que cresce a cada ano. A soja muda bem mais do que a paisagem no interior. Muda o conceito de desenvolvimento econômico do município.

        No final dos anos 80, os primeiros agricultores assentados na comunidade Boa Amizade encontraram bem mais que campos sujos e longínquos.  Encontraram a necessidade de se tornarem precursores do cultivo de uma terra improdutiva.

        Sob a maior estiagem dos anos 80, os agricultores deram inicio a nova vida. “Quando vi os campos onde só nasciam sujeira e animais morrendo de sede, não pensei duas vezes: aqui eu não fico”, lembrou o agricultor Vitório Francisco Trentin, de 54 anos. Meses depois, ele descarregou a mudança e fincou raízes em Hulha Negra. Por quase duas décadas o leite e o cultivo de sementes foram os responsáveis pela fonte de renda da família. A soja era apenas uma cultura experimental.

        Com o incentivo do filho Gilvan Trentin, o agricultor passou acreditar na plantação da soja. As pesquisas de Gilvan sobre qual soja teria uma boa adaptação ao clima, qual seria a mais resistente às pragas deu início a plantação em maior escala. “Hoje a soja é o nosso carro-chefe. Essa safra vai nos render em torno de 45 sacas por hectare”, afirma Trentin.

        A família Girotto é conhecida na região por diversificar a produção. A família produz hortaliças, sementes, grãos, leite e seus derivados. “O nosso alambique era uma referência da região”, lembra o produtor Celso Girotto, 48 anos. Atualmente a soja faz parte da vida da família.

Girotto plantou soja há dez anos e desistiu. “Quando se planta pequenos espaços o investimento é muito grande, por isso desisti”, explica. O preço pago pelo grão e as facilidades de acessar recursos do governo federal, incentivou o agricultor a investir no grão. “Agora não tem mais volta, nos próximos anos, a soja é a cultura que garante a maior parte da nossa renda”, afirma. Girotto acredita que a média da produção por hectare, em sua propriedade, atinja a média de 50 sacos.

        O produtor salienta que, embora o cultivo da soja esteja em alta, outras atividades não devem ser deixadas de lado. “É muito arriscado largar culturas onde já se tenha o domínio e investir numa atividade que exige experiência”, garante o agricultor.

        Para Nilson José Olson, 46 anos, a união familiar é o esteio do agricultor. No seu lote, a máquina colheitadeira retira da terra o resultado forjado em experiência. Em 2009, Olson ou Totti, como é conhecido no assentamento, semeou cerca de 60 quilos do grão. “Desde então planto o ano todo, adquirindo experiência a cada safra”, comenta. Ele acrescenta que tudo o que a família adquiriu, em maquinários, se deve ao trabalho com a soja. Este ano, o agricultor calcula que deve colher cerca de 30 a 35 sacas por hectare.

        Totti lamenta que o município não possua um local para armazenar o grão. Segundo ele o custo com o armazenamento da soja no próprio município representaria diminuição de 50% dos gastos. “Sem falar que diminuiria o custo com o transporte. Hoje o produtor paga em torno R$ 1,50 por saca transportada”.

 

Soja em Hulha Negra

        A Emater estima que há em torno de 8 500 hectares de área plantada de soja. A média de produção por hectare plantada deve ficar em torno de 40 sacos, totalizado um torno de 20 toneladas do grão.

“O crescimento da área cultivada de soja no município é fato e deverá manter-se por vários anos, devido ao cenário favorável de mercado da oleaginosa”, afirma o agrônomo Guilherme De Pietro Zorzi.Para ele, a transformação de áreas de pastagens cultivadas e de campo nativo em lavouras de soja se deu em função da infestação com plantas daninhas. “Com o plantio de soja, o agricultor consegue manejar as plantas daninhas com herbicidas de baixo custo com elevada eficiência”, acredita o agrônomo.

        Zorzi explica que a soja fixa o nitrogênio do ar para suprir suas necessidades, através da simbiose, com bactérias. Parte do nutriente resultante deste processo permanece no solo, aumentando a produtividade das lavouras ou pastagens subsequentes. “No entanto, o produtor deve estar ciente que é altamente arriscado depender apenas da soja, já que nossa região sofre constantemente com estiagens. Estamos em uma região de pequena propriedade e devemos priorizar a diversificação de atividades, ou seja, manter a bovinocultura de leite, de corte, plantio de olerícolas, fruticultura e outros cultivos que podem gerar receitas ao longo do ano todo”.

 

Soja no RS

        A colheita da soja está praticamente finalizada no Rio Grande do Sul, alcançando 95% da área de 3,9 milhões de hectares. De acordo com levantamento semanal sobre a situação das culturas realizado pela Emater, os 5% restantes talvez nem sejam trabalhados, porque a produtividade esperada nessas áreas, em muitos casos, não compensa os gastos com a colheita, apesar do preço atingido pelo produto no momento. Nesta semana, a cotação, no Estado, oscilou entre R$ 48,50 e R$ 51,40 pelo saco de 60 quilos, ficando o preço médio para o produtor em R$ 50,25 - um aumento de 1,23%.

        O Rio Grande do Sul é o terceiro estado com maior produção de soja no país, atrás apenas de Mato Grosso e Paraná, e deverá colher um recorde de 12,2 milhões de toneladas de soja nesta temporada, uma recuperação de quase 90% ante a safra passada, duramente afetada por uma seca, segundo os dados mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

 

Abiove

        A Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais estima que 7,35 milhões de toneladas de óleo de soja sejam produzidas entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014, um pouco menos que as 7,4 milhões de toneladas previstas em março. Na comparação anual, contudo, o volume é 7,6% maior que as 6,83 milhões de toneladas registradas em 2012/13.

        A projeção da exportação foi reduzida de 1,7 milhão para 1,6 milhão de toneladas, enquanto o uso doméstico ficou inalterado em 5,7 milhões de toneladas. A associação prevê que os estoques finais de óleo no ano comercial 2013/14 alcancem 274 mil toneladas, 22,3% mais que as 224 mil esperadas no mês passado.

Newsletter

Receba nossas notícias. Cadastre seu email e fique por dentro das novidades.

Contato

Nosso Jornal Av. Getúlio Vargas, 1259
Top Shopping - Sala 8 - Centro
Hulha Negra - RS
96460-000
53 3249 1299
watts 53 99935 4089
contato@njsite.com.br